Sábado, 14 de Abril de 2012

Regionalização - I: "A LUSITÂNIA NÃO É IBERIA, A IBÉRIA NÃO É LUSITÂNIA"

Mestre Josué Pinharanda Gomes, Pensador e Investigador português -

o "Mineiro" da Cultura Portuguesa.

Um documento para reflexão de regionalistas e anti-regionalistas

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Excerto do Vol. 2, "Patrologia Lusitana" (págs. 15/16), da "História da Filosofia Portuguesa"  do Mestre Pinharanda Gomes, o "Mineiro" da Cultura Portuguesa. Edição Guimarães Editores, hoje propriedade da Livravia Babel, Lda.

(Este excerto foi autorizado pela editora Babel e pelo próprio autor)

 

IMPORTANTE! O autor deste blogue não pretende associar o autor a nenhuma posição perante a temática da Regionalização de Portugal.

 

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"A Lusitânia não é mito dos humanistas do Renascimento. É, a par de um nome que individualiza uma região planetária, um sinal que indicia uma realidade existencial própria, mesmo que os resíduos utilizáveis pelos sucessores e posteriores, careçam de global inteligência e compreensibilidade. A Lusitânia corresponde à zona húmida da Hispânia, onde se constituiu o meio entrópico de Portugal hispânico. como que diverso da zona de sequeiro da península, onde prevaleceu a masculinidade castelhana, mais arrebatada do que a feminilidade, a frouxidão e a cisma da vertente lusitana. Quando dizemos que antes dos lusitanos o que sabemos é o pouco que sabemos acerca dos povos anteriores - povos sem história - queremos significar que "esse sem história" se refere mais à nossa ignorância do que à inexistência de uma história, mas da Lusitânia sabemos quanto importa a uma definição, ainda que mais prospectica do que perspectiva. Olhada retrospectivamente, a Lusitânia é mais do que uma perspectiva da origem, uma prospectiva do meio em que se afirmou uma entidade singular e diferente. E o carro da criação de Portugal.

A Lusitânia não é Ibéria, a Ibéria não é Lusitânia. Comete erro de juízo de facto e de valor, a corrente histórica e política que força a realidade até ser capaz de meter a Lusitânia na União Ibérica, por não compreender que não há reta união ibérica, mas correta união hispânica. Na União Hispânica cabem Lusitânia e Ibéria, enquanto na União Ibérica só cabem os povos iberos, ou da Ibéria. A tese iberista releva do projeto de sujeição da vertente atlântica à vertente mediterrânica e, por via dela, da sujeição dos povos da periferia ao centro impulsor do iberismo. A União Ibérica, tornada doce paliativo, é na ordem política o projeto anti-autonomista do Duque de Olivares: Braga dominada por Toledo.

A Hispânia tem quatro vertentes: a vertente atlântico-cantábrica, especiosa, ainda que aparentada com a vertente perináica e com a vertente lusitana; a vertente mediterrânica (ibéria); a vertente pirenaica, com Aragão, e que por si mesmo é também específica; e a vertente lusitano-atlântica, em que amplamente se insere a galega ou galaica. É supérfluo considerar as vertentes pirenaica e cantábrica, porque a díade dualista se põe somente quanto às vertentes ibérica e lusitana. Os geógrafos que vieram de fora nunca se enganaram e, por isso, jamais confundiram Lusitânia e Ibéria. A Lusitânia é a vertente atlântica - «Lusitânia... que mare Atlanticum spectar»(7), enquanto a Ibéria é a região do Ebro, que o Mediterrâneo contempla. Em sentido figurado, diríamos que a Ibéria olha para Oriente, enquanto a Lusitânia olha para onde o mar começa e a terra se acaba, por repouso do Sol ocitânico. A diferença geográfica não inclui uma diferença cultural (dos círculos culturais de Frobenius sabemos como em África e na Europa há culturas análogas, ainda que Frobenius haja sublinhado que importa não confundir analogia com homologia), mas deve suscitar a vocação para definir identidade geográfica, identidade étnica e identidade existencial. Lusitânia e Ibéria são duas regiões distintas, tão significativas uma como a outra, mas nem a Ibéria é fusível para a Lusitânia, nem há Lusitânia fusionável com Ibéria. A pré-história dos povos peninsulares é diferente, mas torna-se sintomático o nível diferencial entre projeto ibérico e excurso lusitano, como se a Lusitânia e Ibéria houvessem sido berços de duas diferentes raças humanas, como queria o enciclopedismo evolucionista(8). Na diversidade, as duas versões antigas projectaram-se sempre num dualismo geográfico e histórico, de modo que à díade nómica da Lusitânia/Ibéria correspondeu a díade, algumas vezes antinómica, de Portugal/Espanha."

 

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publicado por camaradita às 15:09
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